SXSW 2024: Arquitetos do Amanhã: AI no UX, Computação Quântica e Previsão Estratégica
Continuando minha maratona e tentando evitar a pressão em transformar isso numa corrida de 100 metros rasos
As primeiras palmas do dia não foram no final da primeira palestra, elas aconteceram logo após a abertura da palestra de Ioana Teleanu, Senior Product Designer do Miro.
Em uma edição anterior do SXSW enquanto organizava a agenda das palestras que iria assistir ela decidiu: um dia eu estarei nesses palcos. E hoje ela estava com uma palestra brilhante.
AI + UX: Product Design for Intelligent Experiences
Ela começou pontuando alguns aspectos básicos da relação das empresas e consumidores com IA como hiperpersonalização e eficiência operacional, para logo em seguida entrar em questões mais profundas como dark patterns e explicabilidade.
ABORDAGEM CENTRADA NO HUMANO E NA RESPONSABILIDADE
Um dark pattern (padrão obscuro) é quando a interface de um site ou aplicativo é feita de um jeito que te engana para fazer coisas que você não queria, como comprar um produto ou assinar um plano anual.
Você pode usar inteligência artificial para criar interfaces que são mais eficientes para induzir o usuário a executar determinadas tarefas, a pergunta chave aqui é: isso é ético? Muitas vezes estamos tão concentrados em “bater nossas metas” que não pensamos se estamos manipulando ou não os usuários.
Eu falo muito desse senso ético aplicado a produtos digitais quando explico sobre gatilhos mentais, que são técnicas de persuasão na comunicação. Padrões de design e gatilhos mentais podem ser usados para tornar uma interface ou comunicação mais clara para o usuário, mas também podem ser utilizados para manipular o usuário em benefício da empresa.
Você usou a IA para trazer mais clareza para a sua interface e isso facilitou a escolha dos usuários? Ótimo. Você usou a IA para manipular o usuário a fazer algo que talvez ele não queria? Você pode ter ajudado a empresa a bater suas metas agora, mas a longo prazo essa empresa vai perder a confiança do consumidor.
A IMPORTÂNCIA DA TRANSPARÊNCIA E DA CONFIANÇA
Outro aspecto interessante da palestra foi a explicabilidade, dentro da inteligência artificial é uma área que ajuda a entender como o algoritmo tomou determinada decisão. Dizer que a empresa usou inteligência artificial para resolver um problema muitas vezes vai parecer que estamos dizendo que algum tipo de “magia” foi executada.
Se damos algumas diretrizes básicas para o usuário isso se traduz em confiança. Alguns exemplos incluem dizer que o Netflix analisa os filmes e série que você gostou para sugerir outros parecidos; ou que o Waze acompanha os carros que estão no trânsito para calcular os caminhos e estimativas de tempo. Em ambos os casos não estamos entrando profundamente na técnica, mas a explicação parece mais tecnologia do que magia, e isso cria confiança.
Quantum Computing: Facts, Fiction, and the Future
A palestra de Charina Chou e Erik Lucero, pesquisadores de computação quântica do Google, começaram com a citação de um dos maiores cientistas de todos os tempos, Richard Feynman, que também era um físico teórico com trabalho em física quântica. Ele disse:
“Nature isn’t classical, dammit, and if you want to make a simulation of nature, you’d better make it quantum mechanical, and by golly it’s a wonderful problem, because it doesn’t look so easy.”
Em livre tradução seria: “A natureza não é clássica, caramba, e se você quer fazer uma simulação da natureza, é melhor que a faça quântica, e por incrível que pareça, é um problema maravilhoso, porque não parece ser tão fácil.”
A palestra começa com alguns fundamentos sobre computação quântica que vou deixar pra vocês aqui explicado em vídeo:
https://videopress.com/v/CZ4C3ZJE
Depois eles trouxeram algumas aplicações práticas, a maioria no campo das simulações já que a computação quântica é muito boa com probabilidades. E nesse ponto da palestra jogaram uma bomba: “nenhum computador quântico até o momento venceu supercomputadores em aplicações práticas“.
Queria dar uma ênfase aqui no aplicações práticas, porque existem trabalhos de simulações quânticos impossíveis para a computação clássica, mas não necessariamente de problemas práticos de negócios.
Porém um ponto que ficou de fora da palestra e aqui tomo a liberdade de adicionar é que, supercomputadores são caros e pouco acessíveis, algumas poucas instituições de pesquisa no mundo tem supercomputadores disponíveis.
Computadores quânticos apesar de também serem caros, são acessíveis. Como assim? Você pode alugar tempo em um computador quântico através da IBM ou da Amazon assim como você aluga processamento na computação em nuvem.
Partindo dessa premissa, se o seu negócio trabalha com simulações, sejam de mercado financeiro, logística, criação de medicamentos e outros tipos de pesquisa com cálculos avançados de probabilidade, você deveria, ainda que em nível experimental, estar olhando para computação quântica.
Strategic Foresight 101
Essa foi uma das palestras mais concorridas do dia. O motivo? É a primeira de quatro aulas sobre Foresight que oferece um certificado do famoso Future Today Institute da Amy Webb, um trabalho fantástico de tendências tecnológicas que você pode baixar aqui.
Antes de deixar abaixo um resumo dessa aula quero destacar aqui algumas reflexões que Mark Bryan trouxe na aula:
Por que queremos saber isso agora?: Essa pergunta estimula a empresa a identificar a motivação por trás do interesse em um tópico específico, como o futuro de alguma tecnologia (exemplo: inteligência artificial ou computação quântica). A reflexão aqui é: o que vamos fazer com essa informação? Matar uma curiosidade ou tomar uma atitude concreta?
Para quem isso importa dentro da empresa?: Identificar os stakeholders internos (como investidores, jurídico, RH ou o CEO) que mais se beneficiarão ou serão afetados pelas descobertas da previsão estratégica, garantindo que as informações cheguem às partes interessadas apropriadas. A reflexão aqui é: com quem eu estou mexendo quando eu organizar e apresentar minhas previsões?
O QUE É PREVISÃO ESTRATÉGICA?
A previsão estratégica é um método que utiliza dados para ajudar organizações a identificar futuros possíveis, permitindo-lhes navegar com confiança através de incertezas e aproveitar oportunidades enquanto gerenciam riscos. Em vez de tentar prever o futuro exato, o foco está em preparar-se para vários cenários futuros, garantindo que a organização permaneça resiliente e adaptável, independentemente do que o futuro possa trazer.
INSIGHTS:
Era da Ação: A palestra introduziu a noção de que estamos entrando na “quarta era” da previsão estratégica, a era da “ação”. Isso significa que a previsão estratégica deve ser diretamente ligada a ações e impactos mensuráveis, diferenciando-se de abordagens puramente especulativas ou imaginativas. É uma chamada para que a previsão estratégica produza cenários que não apenas explore possibilidades futuras, mas também ofereça caminhos claros e ações estratégicas.
Fusão de Criatividade e Pragmatismo: Uma das perspectivas únicas abordadas é a necessidade de equilibrar criatividade e pragmatismo na previsão estratégica. A criatividade permite explorar futuros vastos e variados, enquanto o pragmatismo assegura que as ideias sejam aplicáveis e relevantes para os desafios e oportunidades atuais das organizações.
Impacto da Incerteza: Foi enfatizado que as organizações frequentemente falham em preparar-se para o futuro devido à “miopia” estratégica, focando excessivamente no curto prazo e negligenciando os impactos a longo prazo das tendências atuais e emergentes. Isso resulta em respostas táticas reativas em vez de estratégias proativas bem fundamentadas.
Integração em Todos os Níveis Organizacionais: A previsão estratégica não deve ser confinada a um único departamento ou grupo de especialistas. Para ser eficaz, ela deve ser integrada em todos os níveis da organização, garantindo que todos estejam preparados e alinhados para navegar pelo futuro juntos.
Preparação para Múltiplos Futuros: A previsão estratégica eficaz prepara as organizações não para um único futuro presumido, mas para uma gama de possíveis futuros, permitindo-lhes ser mais adaptáveis e resilientes frente a mudanças e incertezas.
Lembre-se de que o modelo GPT-3 já estava lançado e sendo usado por diversas empresas pelo menos 2 anos antes do lançamento do ChatGPT e computação quântica já tem aplicações práticas por vários anos. Assim como a inteligência artificial explodiu, a computação quântica e outras tecnologias podem explodir a qualquer momento.
Não estou dizendo que você tem que investir ou prestar atenção em todas as tecnologias, mas você precisa sim fazer previsões estratégicas para entender as possibilidades, avaliar riscos e começar a investir no futuro antes que ele chegue e te atropele.
Interney, não desista e não caia na pressão! Precisamos na sua profundidade na medida certa, como sempre! Essas edições estão excelentes, tanto é que vim aqui elogiar e cobrar o link do vídeo de computação quântica que vc esqueceu de colocar. Manda mais coisas sobre o tema tb sempre que possível. Brigadão!